Artista

Dalva de Barros

SEMPRE DALVA

" Minha filosofia é de pintar "

Fotografo: José Mauricio

Dalva de Barros

Artista Plástica

Dalva Maria de Barros, Cuiabá, 27 de outubro de 1935.

Dalva de Barros tem uma trajetória artística que se inicia nos princípios da década de 60 e se estende com generosidade, fluência e consistência até os dias atuais. Sua presença transcende as fronteiras geográficas e vai além, muito além do seu estado natal Mato Grosso e da sua Cuiabá tão bem retratada nos seus desenhos e pinturas.

Da mesma forma, Dalva transcende a linguagem artística e vai além das artes visuais, sendo uma das referências mais citadas e observadas quando o assunto é cultura. Com formação sólida, construída ao longo de mais de 60 anos de carreira, criando e apresentando suas obras em exposições individuais e coletivas, engajando-se em causas sociais e políticas, frequentando cursos, palestras e oficinas, Dalva flutua com desenvoltura pelo universo e metaverso das expressões artísticas, influenciando e compartilhando vivência.

Sobre a sua importância, trazemos a leitura de dois dos mais importantes estudiosos da arte brasileira:

“No momento histórico da expansão das fronteiras da civilização, no grande vazio demográfico de Mato Grosso, existe o perigo eminente da perda de valores da cultura regional. Dalva é um dos raros elementos, devido a sua inalterável visão provinciana do mundo, que pode nos legar um retrato puro da nossa sociedade em trânsito. Simples em todas as manifestações de suas atitudes, Dalva assiste o progresso e pinta-o sem conflito para si e sua arte. É a pintora repórter de Cuiabá, das cenas de rua, vistas panorâmicas, momentos únicos, eventos vários, fatos corriqueiros. Paisagens, retratos e interiores. Registra esses momentos através de admirável realismo ingênuo. Realismo por não deixar transparecer doses de fantasia, enfática dramaticidade ou artifícios que possam deturpar a veracidade da cena. Mas fiel à verdade de seu olho ingênuo é incapaz de pintar aquilo que não viu ou não vê. Não revela exatidão formal, ou em outras palavras, não pinta ´perfeitinho´, e nem se perde em minúcias de detalhe, escapando de um resvalo acadêmico. Sua perspectiva é deformada. Acentuada, porém não escandalosa, essa deformação denuncia o sabor ingênuo da pintura. Mesmo quando procura disfarçar, a artista Dalva extravasa sua maravilhosa ingenuidade diante da vida e das coisas complicadas do mundo atual. (…)”

Aline Figueiredo, DALVA Maria de Barros. Apresentação de Aline Figueiredo. Cuiabá: Palácio da Instrução, 1977.

“Ao contrário de Espíndola e João Sebastião, sobretudo em suas fases atuais, Dalva de Barros é tímida, delicada e frágil. Com pinceladas miúdas, vai armando ricas texturas em seus quadros diminutos, nos quais mantém,´ inalterada, sua visão provinciana do mundo´, pintando ´os últimos flashes da província que se consome´, como observou Aline Figueiredo. Mas sem nenhuma revolta, sem fazer críticas, sem lances de ironia. Ao contrário, vê o mundo comovidamente, com olhos ingênuos e puros, sem hierarquizar valores, como se tudo e todos fossem bons, honestos, puros. (…) Poucos pintores, no Brasil, terão pintado com tanta emoção e delicadeza uma praia num domingo movimentado como o fez Dalva. Que tem a sensibilidade de um Guignard ou Rebolo. Seu post-impressionismo tem muitas afinidades com o de Volpi dos anos 30. Quem tiver pressa ou não guardar dentro de si a província que se esvaiu com a juventude, não irá gostar de Dalva. Mas quem, como ela, substituiu a revolta pelo amor, o intelectualismo pela simplicidade, a extroversão pela timidez, ficará tão encantado diante de seus pequenos quadros, como ela diante do mundo. (…)”

Frederico Morais BRASIL/Cuiabá: pintura cabocla. Textos de Frederico Morais e Aracy Amaral. Rio de Janeiro: MAM, 1981.

Desde 1966, ano da sua primeira exposição individual e da iconográfica 1ª Exposição dos Artistas Mato-Grossenses realizada por Aline Figueiredo em Campo Grande – MS, Dalva já mostrou seus trabalhos no Salão Nacional de Belas Artes (1968 – Rio de Janeiro RJ), Bienal Nacional 74, na Fundação Bienal (1974 – São Paulo SP),  36º Salão Paranaense (1979 – Curitiba PR), Brasil Cuiabá: pintura cabloca, no MAM/RJ (1981 – Rio de Janeiro RJ ), Brasil Cuiabá: pintura cabloca, no MAM/SP (1981 – São Paulo SP), Brasil Cuiabá: pintura cabloca, no Fundação Cultural do Distrito Federal (1981 – Brasília DF ), Referências Pantaneiras na Pintura de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul, no Solar Grandjean de Montigny (1988 – Rio de Janeiro RJ), Referências Pantaneiras na Pintura de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no Paço das Artes (1988 – São Paulo SP), A Cor do Mato, na Galerie Alliance Française (1992 – São Paulo SP).

Generosa e coletiva, de 1976 a 1980, Dalva compartilhou o seu conhecimento orientando artistas iniciantes, a maioria de bairros periféricos de Cuiabá, no Ateliê Livre da Fundação Cultural, no centro da cidade, e no Ateliê Livre do Museu de Arte e de Cultura Popular da Universidade Federal de Mato Grosso, entre os anos de 1981 e 1996. Seu cuidado paciente e as orientações sutis, respeitosas e pertinentes foram responsáveis pela iniciação de artistas como Adir Sodré, Gervane de Paula, Benedito Nunes, Carlos Lopes, Alcides Pereira dos Santos, Regina Penna, Márcio Aurélio, Oswaldina Santos, Sebastião Silva, Nilson Pimenta, Jared Aguiar e Julio César. A maioria desses artistas a reconhecem como a “Mãe das Artes Mato-grossenses”, numa manifestação de gratidão.

Em 2004, a data de aniversário de Dalva foi instituída através da Lei 8.204, como o “Dia Estadual do Artista Plástico”. Na oportunidade, 15 artistas plásticos promoveram uma grande celebração com a pintura simultânea de telas em frente à antiga sede da Assembleia Legislativa, atual Câmara Municipal de Cuiabá. Essas telas hoje também fazem parte da Pinacoteca Dalva de Barros, também criada em sua homenagem.

Em 2015 o governo do Estado de Mato Grosso homenageou Dalva com a exposição Dalva de Barros 80 anos, que foi montada na Galeria de Arte Lava Pés, na sede da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer e, depois, circulou por importantes cidades do interior do estado.

Em agosto de 2021 foi um dos destaques da exposição coletiva que o Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Álvares Penteado ((MAB-FAAP) fez em São Paulo para comemorar os seus 60 anos, ao lado de outros importantes artistas nacionais, como Ivald Granato, Claudio Tozzi, Rubens Gerchman e Leda Catunda.

Do alto dos seus 86 anos de idade e mais de 60 à serviço da arte, Dalva leva uma vida simples, sábia que é, não para de desenhar e pintar observando os movimentos da vida e não dispensa uma conversa inteligente sobre todos os temas da vida social e sabe que tem muito ainda à oferecer para a cultura brasileira.


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Em uma série de gravações, a artista plástica conta um pouco da sua historia do seu processo criativo.

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